Qual é a relação do amazofuturismo com o solarpunk?
Para entender isso, primeiro precisamos conceituar o solarpunk. Ele também é um gênero artístico e literário contido dentro da ficção científica. Sua origem remonta ao ano 2008, e surgiu em primeiro lugar para ser uma oposição ao steampunk, que tem como base a energia gerada pelo vapor. Sendo um conceito muito ligado à energia solar, o solarpunk se distancia de seus irmãos “punk” por mostrar uma visão harmônica entre tecnologia, sociedade e recursos naturais.
A visão utópica da realidade está presente no solarpunk, sem deixar de levantar questões realistas e problemas a serem resolvidos. Além disso, a visão de comunidade, onde todos são importantes, e não apenas um indivíduo ou herói se destacam, está presente nas histórias desse subgênero scifi.
A estética solarpunk aposta em cidades de vidro, arquitetura orgânica e justiça social, muitas vezes com jardins suspensos e edifícios verdes.
Apesar de não haver autores exclusivamente voltados ao solarpunk, nomes como Becky Chambers e Ursula K. Le Guin influenciaram o movimento por suas explorações de temas utópicos, ecológicos e comunitários. As coletâneas “Solarpunk: Ecological and Fantastical Stories in a Sustainable World” (2012, editada por Gerson Lodi-Ribeiro) e “Glass and Gardens: Solarpunk Summers” (2018), e Solarpunk: Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável, são representantes do gênero.
Então, percebe-se que o solarpunk tem muito em comum com o amazofuturismo. Ambos valorizam a utopia, a visão de justiça social, de respeito e harmonia com o meio-ambiente, bem como o banimento de fontes de energia poluentes e não renováveis.
No entanto, existe uma diferença fundamental entre o amazofuturismo e o solarpunk, que é a presença indígena no primeiro. O amazofuturismo usa a estética dos indígenas e do Bioma Amazônico para construir suas histórias. Da mesma forma, a cosmologia e a visão de mundo dos indígenas daquela região são fundamentais para pensar o amazofuturismo. Portanto, enquanto o solarpunk não é centrado em povos, mas sim em formas de aproveitar a energia solar, existe uma distância grande entre esses dois subgêneros distintos da ficção científica. No solarpunk, todos os povos são centrais e importantes.
Percebe-se, então, com muita clareza, que o fator indígena no amazofuturismo é fundamental para distingui-lo de outras expressões artísticas que já existem, e que considerar outras raças, ribeirinhos, caboclos, povos de determinadas cidades ou regiões do Brasil como sendo fundamentais para o amazofuturismo – miscigenando tais povos com os indígenas – apenas reduz a importância do amazofuturismo, fazendo com que ele não tenha mais diferença entre o solarpunk, por exemplo.
O amazofuturismo, então, para fazer sentido e se distinguir do solarpunk, deve valorizar os povos indígenas do Bioma Amazônico, fazendo deles, e apenas deles, a espinha dorsal desse gênero tão importante para a ficção científica, lutando contra o apagamento cultural e a miscigenação ideológica.