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Artigos sobre Amazofuturismo

Amazonas e o amazofuturismo.

Amazonas Gregas versus Amazonas Amazônicas

por | jan 5, 2025

Afinal, de onde surgiu o mito das guerreiras que viviam em uma sociedade composta apenas por mulheres?

O poeta da Grécia Antiga chamado Homero, que viveu entre os séculos VIII e VII a.C., é considerado o autor do texto Ilíada, um clássico grego. É justamente na Ilíada que as Amazonas aparecem explicitamente pela primeira vez. No entanto, é provável que elas já existissem enquanto mito antes de Homero, e que este tenha dado a elas maior visibilidade na Ilíada.

Homero as descreve como antagonistas dos gregos, e relata que elas eram provenientes de Temiscira, uma cidade-estado próxima ao Mar Negro. As mais famosas Amazonas eram as rainhas Pentesileia e Hipólita. Esta última possuía em cinturão mágico que foi o alvo de um dos doze trabalhos de Hércules.

As amazonas foram geralmente descritas como tendo um seio a menos, e isso as ajudaria a manejar o arco e flecha, mas não há consenso a respeito desse detalhe anatômico.

O fato é que a lenda das Amazonas surgiu na Grécia e se espalhou por outras partes, em especial os países da Europa, que foram grandemente influenciados pelos gregos. Então, quando os espanhóis começaram a expandir suas navegações para conquistar outras terras e povos, encontraram o continente que mais tarde seria chamado de Americano. Um desses conquistadores, Francisco de Orellana, se perdeu quando buscava caneleiras na selva, em uma expedição que saiu de Quito, no Peru, e adentrou as terras que mais tarde seriam o Brasil.

Orellana e outros 56 homens tiveram que construir um pequeno navio para descer um rio em busca de comida. Incapazes de voltar ao ponto de origem, os espanhóis continuaram uma jornada de milhares de quilômetros por um rio imenso. Travaram contato com povos indígenas variados, encontraram hospitalidade e deram guerra com outros.

Esses acontecimentos maravilhosos estão contados no livro Descobrimento do Rio das Amazonas, escrito pelo cronista Frei Gaspar de Carvajal.

No entanto, o ponto alto da crônica é o encontro com mulheres indígenas guerreiras e muito habilidosas, que os espanhóis pensaram se tratar das míticas guerreiras Amazonas contadas por Homero. O encontro deve ter acontecido, de acordo com novos estudos, próximo de Óbidos, no Pará, depois da foz do rio Trombetas.

Gaspar de Carvajal as descreve como tendo pele clara, muito altas e fortes, vestidas apenas com tanga e portando arcos e bordões como armas. As Amazonas prendiam os cabelos em tranças no alto da cabeça e lutavam como dez homens. Elas protegeram a costa de Óbidos da invasão dos espanhóis, mas não estavam sozinhas. Guerreiros de vários povos comandados por elas estavam ali, ajudando a proteger aquelas terras.

A presença dessas mulheres inspirou o batismo do rio, da floresta e de um Estado brasileiro, confirmando a importância enorme delas e do relato do Frei Gaspar de Carvajal.

Considerando rapidamente essas características superficiais, podemos estabelecer as principais diferenças entre as Amazonas Gregas e as Amazônicas.

A primeira é que as Gregas foram surgiram no texto ficcional de Homero, sendo, portanto, fruto do imaginário. Existe a possibilidade de que o poeta tenha se inspirado em algum grupo de mulheres belicosas que existiu no passado. No entanto, o que se sabe com certeza, até hoje, é que elas não passam de mitologia imortalizada na Ilíada.

Já as Amazônicas foram apresentadas a partir de uma testemunha ocular, no caso o Frei Carvajal. Os outros tripulantes da expedição também viram aquelas mulheres, e alguns indígenas com os quais os espanhóis conversaram, confirmaram a existência do povo das mulheres guerreiras. Portanto, neste caso estamos falando de um povo que existiu, e não de uma lenda.

Além disso, a crônica do Frei Carvajal é isenta de fantasias ou de elementos fantásticos. Ele se limitou a relatar o que viu e apurou junto aos indígenas ribeirinhos. Já as Amazonas de Homero são praticamente figuras envoltas no fantástico e no imaginário.

Outro ponto importantíssimo de divergência é a aparência física entre as Amazonas Gregas e as Amazônicas. A versão de Homero cita que elas teriam se mutilado para ter um seio a menos, ainda que essa informação seja controversa na mitologia. Já as guerreiras Amazônicas são descritas sem esse detalhe anatômico, ou seja, o Frei Carvajal não comenta nada a respeito dos seios delas e, estando elas nuas – de acordo com a própria descrição do cronista – ele teria visto um detalhe tão claro quanto a falta de um seio. Mas a verdade é que na crônica do Frei não há uma palavra sequer a esse respeito.

Concluindo, apesar de as Amazonas da mitologia grega terem sido a referência usada pelos espanhóis para batizar o povo das mulheres guerreiras encontrado nas terras que depois seriam chamadas de Brasil, o relato das Amazonas brasileiras não tem qualquer relação com as gregas, nem tampouco com mitos ou lendas, já que elas existiram de fato. Infelizmente, os espanhóis trouxeram consigo doenças que causaram verdadeiros extermínios, eliminando para sempre vários povos indígenas dos quais jamais ouvimos falar. O mesmo deve ter acontecido com aquelas mulheres que foram chamadas de Amazonas, que nunca mais foram vistas depois daquele primeiro contato.

Para saber mais a respeito, leia o livro Descobrimento do Rio das Amazonas, em tradução nova e fiel para o português.

E se você quer ler uma aventura repleta de ação e profundidade história, leia Guerreiras Amazonas, de Rogério Pietro.

 

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Autora Carol Peace

Autora Carol Peace

Carol Peace escreve e ilustra. Tem formação em Direito e em Arquitetura e Urbanismo e é mestre em Design. Já participou de várias seleções literárias. Alguns títulos publicados: Você está morto, Jesse Danvers; TK2K; A Ponte; Almas de Plástico; Defrag.Debug.Restart;...