Doutorando em Educação na Amazônia e Mestre em Literatura, Jan Santos é autor de livros como “Rudá – o filho da terra e das estrelas” (2023), obra vencedora do Prêmio Thiago de Melo, e “O livro do rio – Iguaraguá” (2021), um dos títulos contemplados no Prêmio Manaus de Conexões Culturais. Pelo Coletivo Visagem, é organizador e um dos autores de “Encantarias”, obra contemplada tanto pelo Conexões Culturais quanto pelo Prêmio Frauta de Barro da Editora Valer.
Leia a seguir uma entrevista exclusiva do autor Jan Santos para o site Amazofuturismo.
AMZ – Ao lado de Tammy Rosas, você aparece como organizador do livro Encantarias, considerado o primeiro livro de contos amazofuturistas da história. O que você pode dizer a respeito desse trabalho?
JS – Organizar o Encantarias foi o ponto alto do Coletivo Visagem. Todos temos nossas trajetórias individuais, mas nos alinharmos e escrever algo assim foi único. Eu ainda não tinha me arriscado em nada da ficção científica, então me sinto muito orgulho de minha primeira tentativa ser ao lado de artistas que respeito muito. Procuramos experimentar com as ideias propostas pelo João Queiroz, mas também queríamos algo que fosse fiel às nossas trajetórias, oferecendo possibilidade de futuro para quem participa aqui da região amazônica. Somos um universo de identidades, e queríamos mostrar que existem muitas formas de contornar a crise climática que hoje nos ameaça.
AMZ – Recentemente foi lançada uma nova edição de Encantarias. O que esperar dela?
JS – Essa edição foi fruto do Prêmio Frauta de Barro da Editora Valer, que nos valeu uma parceria para a versão física. Espero que atinja um público maior, especialmente aos que ainda não são adeptos da leitura digital.
AMZ – Como você vê a ficção científica da Região Norte do Brasil?
JS – Eu vejo como uma força ainda a ser explorada. Frente à crise climática, nós escritores precisamos oferecer possibilidades de sonho, de imagens que estimulem a esperança por um futuro não distópico, em que a fome capitalista devorou até a última árvore viva. A ficção científica ainda é pouco explorada por aqui, conheço trabalhos muito pontuais, mas temos nomes de peso: Carol Peace, Giu Murakami e Roberta Spindler são alguns dos nomes que posso destacar dessa leva. Precisamos de histórias que nos deem esperança, pois como nos ensina Krenak, é contando histórias de esperança que podemos adiar o fim do mundo e, prevenindo a profecia de Davi Kopenawa, impedir que o céu caia.
AMZ – Tem mais projetos amazofuturistas nos planos?
JS – “Encantarias” foi pensado para ser uma série. Vez ou outra conversamos sobre a possibilidade de organizar os próximos volumes e incluir mais autores. Com certeza há planos de fazermos isso num futuro próximo.
AMZ – O que o leitor vai encontrar no livro Rudá: o filho da terra e das estrelas?
JS – “Rudá” foi o que nasceu quando a pandemia nos atingiu. É um livro infanto-juvenil sobre estar junto novamente após o Mal nos separar, ao mesmo tempo que, para isso, precisamos também reavaliar nossa relação com a própria natureza e os poderes que a guardam. É um conto sobre solidão e reencontro, e, como em Encantarias, espero que as pessoas encontrem também um pouco de esperanças quando a dificuldade as cercar e o mundo estiver à beira do colapso, como tende a estar.
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