Existem muitas dúvidas e desinformação a respeito do que realmente significa a palavra Amazonas, que dá nome à maior floresta tropical do mundo, a um estado brasileiro e ao maior rio do mundo em volume de água. Essas dúvidas e desinformações são compreensíveis quando partem de fontes pouco confiáveis, mas ver uma desinformação gritante sendo trazida por um site oficial do governo brasileiro é um motivo a mais de tristeza.
O site oficial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão federal que deveria fornecer dados sobre o nosso país, cometeu alguns erros primários em uma página que conta a história do Amazonas. O texto simples começa afirmando que “Amazonas” vem da palavra “amassunu”, que seria de uma língua indígena e que teria o significado “de ruído de águas, água que retumba”. (1)
Existem dois erros enormes logo na primeira frase da página. O primeiro é a afirmação falsa de que Amazonas vem de “amassunu”. Na verdade, o termo “Amazonas” vem da mitologia grega antiga, e foi usado em um texto clássico chamado Ilíada, escrito por Homero entre os séculos VIII e VII a. C. Os espanhóis que visitaram este continente no século 16 traziam consigo a cultura e os mitos gregos, os quais eram propagados na Europa por meio de livros.
Existem duas teorias mais aceitas para o significado da palavra “Amazonas”. Em grego, “a-masos” possivelmente significaria “sem seio”, porque, de acordo com a lenda, essas mulheres queimavam e retiravam um seio para manejar melhor o arco e flecha. (2) A outra oferece uma origem no gentílico iraniano, no qual “ha-mazan” significaria “guerreira”.
A língua indígena que supostamente teria dado origem ao nome amassunu não é citada no texto do IBGE. Existem 274 línguas indígenas no Brasil, de acordo com o próprio site gov.br, e a página do IBGE não foi capaz de dizer qual delas teria fornecido a palavra “amassunu”, impedindo qualquer tipo de verificação dessa hipótese inovadora.
A página do IBGE segue afirmando que o nome “Foi dado ao rio que banha o Estado, pelo capitão espanhol Francisco Orelhana, em 1541”.
Nessa frase existem mais dois grandes erros. Vamos explicar e corrigir.
Francisco Orellana (não Orelhana), não deu o nome de “Amazonas” ao rio. Ele o chamou de Rio de Orellana, em homenagem a si mesmo, já que foi o primeiro Europeu que desceu o rio em toda a sua extensão, saindo no oceano Atlântico depois de uma longa jornada. (3)
Orellana e os tripulantes dos dois bergantins que desceram o rio desconhecido chamaram de Amazonas as mulheres guerreiras que encontraram em determinado trecho do rio. Quem conta isso é o cronista Gaspar de Carvajal, um Frei espanhol que estava a bordo e acompanhou todas as desventuras de seus companheiros. (3)
Quando o Frei Carvajal entregou sua crônica ao Rei Carlos I da Espanha, ele teria ficado impressionadíssimo com a existência daquelas mulheres corajosas e belicosas. Por causa delas, o Rei declarou que o rio passaria a ser chamado de Rio das Amazonas, em homenagem clara ao mito grego. (4)
Logo, a página do IBGE passa duas informações enganosas nessa única frase: a de que o nome do rio foi dado por Francisco de Orellana, e que este capitão teria chamado o rio, e não as mulheres indígenas, de Amazonas.
Outra coisa a ser mencionada é que o relato do Frei Gaspar de Carvajal é datado de 1542, e não 1541, conforme consta na página do IBGE. (3)
Todos esses erros teriam sido evitados se as fontes originais de informação fidedigna tivessem sido consultadas. Não precisava muito. A crônica do Frei Gaspar de Carvajal está disponível para consulta e estudos, e é nela que podemos encontrar a maior parte da verdade. Leia AQUI.
O texto do IBGE termina indicando uma referência que não pode ser encontrada, de um link para um documento do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que não leva a parte alguma.
Abaixo você pode verificar as Referências para as informações trazidas nesta página:
1. Ibge.gov.br. 2023. Available from: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/am/historico
2. Cartwright M. As Amazonas [Internet]. Enciclopédia de História Mundial. 2019 [cited 2025 Jan 6]. Available from: https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10355/as-amazonas/
3. Carvajal G. Descobrimento do Rio das Amazonas [Internet]. 2024 [cited 2025 Jan 6]. Available from: https://www.amazon.com.br/Descobrimento-do-Rio-das-Amazonas-ebook/dp/B0DCTYW93X/
4. De A, Doc B. Descubrimiento del río de las Amazonas por el Capitán Francisco de Orellana Relación de Gaspar de Carvajal [Internet]. Available from: https://blogs.elpais.com/papeles-perdidos/pdf/gaspardecarvajal.pdf